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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Uma escola livre em "De frente para o elefante"


Rubem Alves, renomado educador, costumava dizer que existem escolas que são gaiolas e outras que são asas. “De frente para o elefante”, exibido no Festival Internacional de Cinema do Rio desse ano, acompanha a trajetória do primeiro ano da Teddy McArdle Free School, justamente uma escola que se pretende asas. Nela, todos os dias, seus poucos mais de 10 alunos, o diretor Christian e outros colaboradores decidem, através de assembleias, o que querem e como querem fazer. Esse, talvez tenha sido o sonho de muitos de nós em fase escolar, afinal quem nunca se imaginou em uma escola livre, em que a maior parte do tempo se parecesse mais com o recreio e menos com a sala de aula? 
A escola que a maioria das pessoas conhece, ao menos no Ocidente, é de origem burguesa - século XIX - e firmada em bases tradicionais. Ou seja, dentre as várias possibilidades, é bem mais fácil encontrar uma escola com o poder hierárquico definido, carteiras enfileiradas, um quadro negro ou branco na parede, alunos sentados e professor ministrando suas aulas lá na frente. Temos ainda os deveres de casa, a chamada, exercícios do livro didático e mais um monte coisas que certamente você e muitas pessoas vivenciaram em sua trajetória escolar. Já de muito tempo, as bases da escola tradicional vêm sendo questionadas. Nesse contexto, surgem movimentos baseados em pedagogas alternativas a ela, com destaque para o movimento da Escola Nova, que ganhou força nas primeiras décadas do século XX. Sua perspectiva central era de que uma vivência educativa livre, formaria cidadãos mais solidários e capazes de lutar contra as desigualdades.
         É justamente essa a premissa da Teddy McArdle Free School, sediada em Nova Jersey – EUA e acompanhada em seu primeiro ano pela diretora de cinema Amanda Rose Wilder. Para tanto, ela opta por um formato clássico no cinema documentário, em que participa como uma espécie de testemunha ocular dos processos ali vividos. A fotografia acerta no preto e branco, fazendo certo contraste com o colorido de um universo infantil em constante expansão. Entre os diversos alunos, a doce Lucy antagoniza com o agressivo e esperto Jiovanni, evidenciando que mesmo em universo com maior liberdade, há uma complexidade humana imensa.
Eu, como professora, confesso ter ficado extasiada com as potencialidades apresentadas numa escola em que boa parte das decisões se dão conjuntamente, através de assembleias. Tudo(ou quase) passa por todos, da definição do que se irá aprender no dia, normas de condutas e diversas outras decisões. Mas, se o filme nos seduz, inicialmente, com a possibilidade quase ideal de se vivenciar a liberdade na escola, traz outras perspectivas quando escancara as inúmeras dificuldades enfrentadas pelos habitantes daquela instituição. Algumas delas, muito comuns nas chamadas escolas tradicionais. Nesse ponto, a montagem é extremamente feliz pois brinca justamente com a forma como idealizamos os diversos processos de nossas vivências.
            “De frente para o elefante” permite o reconhecimento de que crianças são seres capazes de construir uma série de sentidos e opiniões sobre o mundo e que sim, precisam ser reconhecidas enquanto produtoras de saber. Outro ponto fundamental é o de nos provocar a pensar no que de fato é a liberdade e em que medida a experiência democrática total é possível.


         Certa vez, li a definição de “escola”, feita por uma menina de 5 anos de idade e que dizia o seguinte: escola é um lugar com mesas e cadeiras chatas. Penso que a escola ideal é a que construímos continuamente, num processo de reconhecimento da complexidade do outro e da liberdade enquanto experimentação. Nesse caminho, pode haver lugar para muitas coisas como: o quadro negro, as salas de aula sem paredes, os exercícios do livro, as brincadeiras, sonhos e outras possibilidades sem fim. Sempre que posso, imagino uma escola e também um mundo em que as coisas sejam um pouco menos chatas e mais fáceis de se transformar! Esse exercício, é sem fim, assim como a a tão sonhada liberdade.


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