Vamos aqui tratar de uma página traumática e ainda presente fortemente na memória social de Niterói: O incêndio do GRAN-CIRCUS Norte Americano. Os anúncios diziam que era o maior e mais completo circo da América Latina – tinha cerca de sessenta artistas, vinte empregados e 150 animais. O dono do circo, Danilo Stevanovich, havia comprado uma lona nova, que pesava seis toneladas e seria de nailón - detalhe que fazia parte da propaganda do circo.
A tragédia deu-se na tarde do dia 17 de dezembro de 1961 e a comoção foi geral. Praticamente toda a imprensa nacional voltou seus olhos para a tragédia, que teve por volta de 300 vítimas.A falta de um lugar de memória para a tragédia e seus heróis salta aos olhos, daí podemos inferir uma série de questões. Por exemplo: O acesso dos espaços periféricos a um local de memória, a importância de episódios circunstanciais e acidentais na constituição de identidades, o momento de inflexão social e política pelo qual o país passava – e a utilização da tragédia pela mídia, a normatização das atividades circenses após o acidente e etc. A culpa do desastre caiu sobre um ex-funcionário que chegou a dizer ter provocado o mesmo por vingança após ter sido demitido no processo de montagem do circo, mas não podemos ser ingênuos e tomar tal declaração como livre de pressões. O fato é que “Dequinha” acabou por ser culpabilizado e, após ter sido diagnosticado retardamento metal, teve uma pena de dez anos de reclusão, e mais seis anos de internação em manicômio judiciário como medida de segurança. O caso teve repercussão internacional. O papa João XXIII declarou-se sobre o ocorrido e o governo dos EUA doaram
Podemos mais uma vez afirmar que este acontecimento trágico traz uma plêiade de questões, principalmente se refletirmos pelo viés da micro-história. As múltiplas reações mostram uma série de comportamentos. Um trabalho acurado pode mostrar-nos muito sobre vidas então desconectadas, comuns. No plano dos homens que tomaram maior destaque temos três figuras emblemáticas: O cirurgião plástico Ivo Pitanguy que desenvolveu um trabalho social importantíssimo e trouxe a cirurgia plástica para o plano do social. O médium Chico Xavier, que também buscou dar conforto aos envolvidos com seu trabalho espiritual, e o mítico e emblemático “profeta Gentileza” (José Datrino), que de rico empresário passou a ser um andarilho que pregava a paz através dos muros do Rio de Janeiro.
Niterói só voltou a ter uma nova visita de um circo em 1975, quatorze anos após o incêndio. Muitas questões, inclusive judiciais, permanecem abertas, mas a principal ferida foi emocional, foram muitas vidas perdidas. Uma bela tarde de verão com a família transformou-se em um pesadelo. É um dever para todos nós que estudamos história aferirmos também sobre os sentimentos vividos, os impulsos e a cognição dos homens que viveram os fatos passados.
O profeta gentileza:
Por Thiago Rodrigues da Silva.
[1] www.rj.anpuh.org/Anais/2002/Comunicacoes/Mauad%20Ana%20M2.doc MAUAD, Ana Maria. Palavras e Imagens de um acontecimento: o incêndio do GRAN CIRCUS Norte-Americando, Niterói, 1961. X Encontro Regional de História Anpuh-Rio.
Links
Imagens da tragédia (presentes nesta postagem):
http://www.historia.uff.br/labhoi/?q=image/tid/76
Na Wikipedia:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Trag%C3%A9dia_do_Gran_Circus_Norte-Americano
Outros:
http://grancircusincendio.blogspot.com/
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