Para quem viveu os anos 80 como eu, ser paquita era a vontade de muitas meninas durante a infância e adolescência. Eu não era lá muito fã da Xuxa mas consigo lembrar da comoção causada pelos programas e pela possibilidade de ser paquita. Existiam os tais concursos e era uma loucura, várias meninas ensaiando, dando gritinhos e enfrentando filas imensas em busca desse sonho.
Acontece, que havia um padrão estético para alçar a posição de assistente de palco da apresentadora, ser loira e de preferência de olhos claros. Ora, pensemos na diversidade étnico-racial do Brasil, definitivamente não será esse o padrão estético visto pelas ruas do país. Assim, o programa da Xuxa foi durante muitos anos, um espaço massivo de legitimidade do ideal de beleza e valores brancos no país. Para nós, meninas não brancas, sobrava a possibilidade de buscar uma identificação com a Mara Maravilha (meu caso) ou abandonar com infelicidade e resignação a possibilidade de ser paquita.
É justamente disso que trata o curta-metragem "Cores e Botas", trazendo a história de Joana, uma menina negra que queria ser paquita. Levei esse filme para a sala de aula para discutirmos a questão do racismo e as naturalizações presente no discurso de muitas pessoas. Trouxemos o exemplo do chamado "cabelo ruim" e dos padrões estéticos presentes no programa "Malhação" da Rede Globo.
PS: Muitos alunos não sabiam quem foram as paquitas!
*Falando do programa da Xuxa como espaço de legitimação dos ideais branco-colonialistas, deixo esse vídeo constrangedor da música "Brincar de Índio". Fica a reflexão que pode se estender para a questão midiática como um todo.
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