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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Professor e a mediação de conflitos em sala de aula

Ontem, li o post "Não fique calmo. Sobre racismo na infância."  no Blogueiras Negras e fiquei pensando em como nós professores, presenciamos cotidianamente práticas de racismo na escola. 

Pensando nisso, me fiz uma questão, qual o papel do professor em sala de aula?
Com meus alunos, costumo brincar com a seguinte ideia: o conteúdo   da disciplina a ser trabalhada é o chão por onde caminhamos, a forma e o que acontece nessa caminhar , integram o processo que chamamos de educar. Desse modo, o professor deve ter em mente que não está ali apenas para transmitir o conhecimento ao aluno. Para alguns, pode parecer antiquado retomar a discussão que Paulo Freire já realizava na década de 1970, mas a "educação bancária" continua a efetivar-se. Diversos debates buscam compreender a atual crise da educação, pesquisadores se lançam a pensar a carreira docente, as políticas públicas, a didática, o currículo, entre outras esferas. Mais do que os debates acadêmicos é preciso retomar uma palavra fundamental para pensarmos a educação: sensibilidade. Ao retoma-la, falo do processo fundamental ao educar que é o da troca humana. Sensibilidade é, portanto, estar aberto para esse outro tão diverso e plural. Afinal, em tempos de coisificação humana é preciso lembrar o que parece óbvio, somos GENTE. A educação está em movimento porque nós estamos em movimento, exercitar a alteridade é se permitir adentrar o diferente que habita em tantos corpos e olhares, em tantas escolas e suas salas de aula.
Ser professor é difícil? É! Porque o ser humano é complexo. "Ah, mas as péssimas condições de trabalho fazem piorar tudo." Claro que fazem, mas ainda que tivéssemos a melhor estrutura de trabalho, ainda haveria muita complexidade. Ao ignorarmos essa nossa característica, acabamos por promover diversas manutenções de desigualdades e opressões. Nesse sentido, trago a perspectiva de que o professor deveria se perceber também enquanto mediador de conflitos. E não falo de apartar brigas e sim de assumir que a escola apresenta os diversos conflitos presentes em nossa sociedade. Normalmente, cabe aos professores das ciências humanas travar as discussões sobre os preconceitos diversos, como se o problema fosse uma questão de conteúdo e não de prática. Quantos professores silenciam-se e ausentam-se ao ouvir e presenciar práticas diversas de racismo, homofobia, machismo, bullying, entre outras agressões. Não defendo que o professor seja responsabilizado por essa esfera e sim, que haja uma conscientização da comunidade escolar de que o processo formativo é muito maior do que os conteúdos programáticos.
Lembro, que o silêncio do professor frente a diversas práticas pode justamente legitima-las junto ao alunos. Sabe aquele famoso "Quem cala, consente!"? É claro que o professor não dará conta de mediar a diversidade de conflitos presentes em sala de aula, mas há que se precebê-los ao menos. Certos silêncios, falam mais do que qualquer palavra!



Um comentário:

  1. Bela e necessária reflexão! E a caminhada por esse chão é uma tarefa que tem que se fazer a partir dessa sensibilidade. Penso aqui na importância que a formação de professores tem que ter ao esclarecer debates como esses.E aí, colegas professores. Como lidamos com as opressões na sala de aula? Isso é a nossa prática, independente de nossa disciplina. Afinal, alguém aqui ainda reconhece que somos humanos? Essa semana em uma das corridas da escola ouvi a história de um policial que foi mediar o conflito entre a diretora de uma escola e os professores no carro de som do lado de fora. E depois leio esse texto dos blogueiras negras sobre a questão do racismo na infância e as reflexões de Ana Beatriz Domingues sobre o tema. Penso nos pequeninos, os do sexto ano e a na urgência que temos em debater as opressões no cenário opressivo. Penso nos Mateus e nas Jéssicas da vida. Na piada sobre macumba, sapatão e o negro. Uma das vezes que presenciei um ato de racismo na minha sala de aula os homens das cavernas viraram as bonecas negras preteridas pelos picurruchos até o fim da aula. Penso no caso do blog, penso na mãe da Malwee. Penso na minha prática como professor.

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